Povos indígenas e movimentos agrários do sul e sudeste do Pará se mobilizam para mostrar ao mundo a luta pelo clima e pela terra

Povos indígenas e movimentos agrários do sul e sudeste do Pará se mobilizam para mostrar ao mundo a luta pelo clima e pela terra

Por Cristiane Gomes

Povos indígenas e pequenos agricultores, cuja sobrevivência depende diretamente da terra, estão cada vez mais expostos a ameaças territoriais e à escalada da violência no campo. Esses grupos vêm sendo alvos de conflitos fundiários, que colocam em risco a preservação ambiental e a sustentabilidade econômica das regiões onde vivem. E para conciliar a preservação ambiental com o desenvolvimento econômico, é necessário repensar o modelo de geração de empregos.

Ainda segundo o entrevistado, “o Pará tem um papel histórico fundamental na Amazônia, sendo um centro de produção de borracha e uma área de grande diversidade produtiva, com extrativismo, agropecuária e garimpo. A escolha de Belém como sede da COP 30 visa fortalecer o diálogo sobre os problemas da Amazônia e como abordá-los de maneira integrada. Com a COP 30, o sudeste paraense tem a chance de redefinir seu futuro, estabelecendo um caminho que respeite a biodiversidade da floresta enquanto promove o bem-estar das pessoas que dela dependem”, conclui.

Apesar dos compromissos assumidos nas Conferências das Partes (COPs) anteriores ainda serem uma provocação, a implementação das metas climáticas é um grande desafio. É urgente tomar medidas concretas para proteger a floresta e seus povos, além de promover a cooperação internacional para combater os impactos das mudanças climáticas e a perda de biodiversidade.

A participação ativa de povos indígenas e movimentos sindicais é fundamental para garantir que as decisões sobre o futuro da Amazônia sejam democráticas. Isso significa que as decisões devem refletir os interesses das comunidades locais e assegurar um futuro sustentável para a região.

A disputa por territórios tem avançado sobre áreas tradicionalmente ocupadas por essas comunidades, resultando em violações de direitos, destruição de seus modos de vida e o enfraquecimento da agricultura familiar.

A regularização fundiária e a implementação de políticas públicas de reforma agrária são necessárias para reduzir a violência e garantir a segurança territorial dessas populações. A luta pela preservação ambiental também é central, com a agroecologia e práticas sustentáveis sendo apontadas como alternativas para combater o desmatamento e promover a preservação do meio ambiente, segundo dados da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB, 2025).

A preservação da Amazônia vai além dos fóruns internacionais e das promessas de cúpulas climáticas, ela é uma luta cotidiana travada por povos indígenas e movimentos agrários. No centro dessa disputa estão os direitos territoriais, a defesa dos modos de vida tradicionais e a construção de um modelo de desenvolvimento sustentável (APIB, 2025).

Organizações como a APIB têm desempenhado um papel de protagonismo na pressão por políticas públicas efetivas. Entre as principais pautas estão o fim do garimpo ilegal, a demarcação de terras indígenas e o combate às queimadas, práticas que têm avançado sobre a floresta com intensidade alarmante.

Paralelamente, povos tradicionais e movimentos sindicais reforçam a importância da reforma agrária e da agricultura familiar como caminhos para o uso sustentável da terra.

Fonte: Evandro Medeiros extraído do “Rogerio Almeida Furo”

Em entrevista, a sindicalista destacou o retrocesso nas políticas públicas para os trabalhadores rurais durante o governo anterior, que, segundo ela, não implementou medidas eficazes para atender a essa população. “A situação dos trabalhadores rurais em nossa região tem vivido um retrocesso, especialmente após o governo federal anterior. Contudo, desde 2024, há um movimento de retomada das políticas públicas, com foco na agricultura familiar e na reforma agrária”, afirma.

O STTR de Rondon acompanha 13 assentamentos, beneficiando cerca de 3 mil famílias. A luta pela reforma agrária e a promoção da agricultura familiar são as principais bandeiras do movimento, que busca garantir direitos fundamentais como saúde, educação e a geração de empregos no campo.

A violência agrária continua sendo uma realidade no sul e sudeste do Pará, com a perseguição constante aos defensores dos direitos territoriais. Costa ressaltou a ocupação ilegal de terras públicas por fazendeiros e a omissão do governo na distribuição justa dessas terras. “A perseguição aos que lutam pela terra é constante. O governo sabe que as terras são públicas, mas não as distribui corretamente. Precisamos de ações para regularizar a situação”, declara.

Em relação à preservação ambiental, ela destacou os avanços na implementação de projetos de agroecologia nos assentamentos. “Hoje, temos dois assentamentos já com projetos de agroecologia. Estamos trabalhando na reeducação ambiental, com o apoio ativo da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará e da Confederação, buscando promover a sustentabilidade no campo”, conclui.

A disputa por diferentes modelos de desenvolvimento, marcada por décadas de mobilização de ambientalistas, indigenistas e sindicalistas, segue sendo uma das principais batalhas políticas e sociais do país. Em jogo estão a integridade da Amazônia, o futuro climático do planeta e a justiça para aqueles que historicamente protegem seus territórios.

Fonte: Antônio Cruz / Agência Brasil

Pepkrakte jakukreikapiti ronore konxarti conhecido como Zeca Gavião, liderança indígena do Povo Gavião no sudeste do Pará, em um relato contundente, fez um alerta sobre os riscos que os povos indígenas do Brasil enfrentam diante das atuais ameaças aos direitos garantidos pela Constituição Federal de 1988 com o Marco Temporal. “As propostas legislativas para mim são articuladas ‘por debaixo do pano’, com apoio de políticos ligados ao agronegócio. Talvez cada deputado, cada senador, está sendo comprado para aprovar esses projetos que ameaçam nossas terras. Muitos estão lá para defender o agronegócio, não a nossa existência”, declara.

Apesar das dificuldades, ele ressalta o papel fundamental de organizações como a Fepipa, a COIAB, a APIB e o movimento Acampamento Terra Livre, que têm sido espaços de articulação nacional para conter retrocessos. “É através desses movimentos que conseguimos frear algumas ameaças aos nossos direitos,” disse ele.

Zeca também destaca a pouca representatividade política dos indígenas: “Hoje, somos minoria. Temos poucas pessoas dentro do governo que realmente lutam por nós. A ministra Sonia Guajajara está lá, mas enfrenta resistência dentro e fora do governo. E a Funai já não tem poder de decisão como antes”, ressalta.

O agronegócio está muito bem organizado, enquanto os povos indígenas ainda carecem de unidade permanente, ressalta Zeca. “A gente só se une na época do Acampamento Terra Livre. Mas precisamos estar juntos o tempo todo. Temos força, mas não estamos sabendo usar”.

O líder indígena também critica a falta de compreensão de muitos setores da sociedade sobre o papel histórico dos povos indígenas no Brasil. “Nós não somos invasores, nós somos os primeiros habitantes. Mas ainda tentam nos manter como escravos, agora de forma diferente”.

Para ele, o apoio internacional tem sido essencial na luta indígena. “Quem defende os povos indígenas do Brasil são, muitas vezes, os países do primeiro mundo, mas a nossa força interna precisa crescer, precisamos despertar e caminhar unidos,” encerra.

A realização da COP30 em Belém, no Pará, revela um contraste marcante entre a infraestrutura urbana da capital e a realidade vivida pelas comunidades tradicionais da região. Essa disparidade evidencia a urgência de uma representatividade mais ampla e efetiva desses povos nas discussões climáticas. Não se pode falar em justiça climática sem garantir a participação plena e igualitária das populações indígenas e movimentos agrários em todas as etapas das negociações.

Ao abordar questões territoriais durante a Conferência, o Brasil terá a oportunidade de demonstrar seu compromisso com a proteção da Amazônia, o respeito aos direitos dos povos originários e das comunidades tradicionais, e a construção de um futuro mais justo e sustentável para todos.


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