Moradores de Rondon do Pará denunciam abandono de ruas e falta de drenagem: “Sempre foi assim”

Moradores de Rondon do Pará denunciam abandono de ruas e falta de drenagem: “Sempre foi assim”

Por Thiago Daves e Cecília Costa

Buracos, alagamentos e promessas antigas. Essa é a realidade enfrentada por moradores de alguns bairros da cidade, onde ruas seguem sem pavimentação adequada, obras de drenagem inexistem e a ausência de infraestrutura adequada afetam diretamente a qualidade de vida dos moradores.

“Aqui quando chove, vira um rio. Sempre foi assim”, conta Ricardo de Souza, morador há um ano da região, apontando para um trecho da rua onde a água se acumula. “Fizeram até um pedaço, mas esqueceram o resto.” Ricardo mora em uma área onde há trechos asfaltados pela metade. A pavimentação começa, mas não termina. Segundo ele, os projetos anunciados são executados apenas parcialmente, deixando moradores no descaso.

Branca Arruda, que vive no local há mais de dez anos, confirma tal situação. “Eles colocaram esse bloquete no ano passado, mas só até metade da rua. O restante ficou esquecido. Quando chove forte, a água desce tudo do Bairro Miranda e não tem pra onde ir. Fica tudo alagado, a gente passa com água no joelho”.

A moradora lembra que, além do acesso difícil, os danos causados pela água são constantes: bloquetes soltos, crateras e riscos de acidentes. Em sua casa, a família chegou a construir fossas para evitar que a água das pias escorra pelas ruas, agravando ainda mais a situação da vizinhança.

Próximo a uma área particular já cedida à prefeitura, a situação é ainda mais grave. Um dos moradores, Paulo Roberto Rincon, aponta uma enorme cratera aberta pela força da água da chuva. “Isso aqui é particular, mas foi cedido pra prefeitura fazer o serviço. Já teve até engenheiro aqui, mas nada foi feito. A água vem lá do alto, da avenida, e para tudo aqui. Fica alagado dentro do meu terreno. Eu mesmo que abro valas com o enxadão pra ela escorrer”, ressalta.

Rincón mora na área há 16 anos e diz que a visita de políticos é frequente apenas em época de campanha. “A prefeita veio, disse que se ganhasse ia olhar pra isso aqui. Mandou engenheiro, mas já faz mais de um ano e nada aconteceu”, enfatiza.  

Todos os moradores entrevistados são unânimes ao apontar o problema da drenagem como o maior desafio da região.

“Não adianta jogar asfalto se não resolver a drenagem. A força da água destrói tudo. Aqui é necessário um projeto de canalização, manilhas, uma drenagem de verdade”, diz Branca, indignada.

Além dos transtornos diários, há prejuízos para comércios locais, como salões de festa e estabelecimentos situados próximos às áreas afetadas. A chegada do inverno agrava a situação, tornando ruas intransitáveis e trazendo riscos para pedestres e motoristas.

Os relatos colhidos mostram que os problemas são antigos e recorrentes. Os moradores pedem que os órgãos responsáveis olhem com mais atenção para as áreas mais críticas da cidade, e que projetos de pavimentação sejam realizados com planejamento, incluindo soluções definitivas para o escoamento das águas pluviais.

“A gente não quer promessa, a gente quer ação. Isso aqui já foi mostrado, já foi visto. Agora só falta vontade de fazer”, conclui Paulo Roberto.

Entre promessas políticas, chuvas intensas e obras inacabadas, moradores do bairro Gusmão em Rondon do Pará convivem há mais de uma década com o avanço de um buraco que ameaça casas, ruas e a própria dignidade de quem vive ali. Desde 2014, segundo relatos dos moradores, a erosão tem avançado após a abertura de uma rua e a instalação de manilhas mal planejadas para evitar acidentes.

“Aqui mora um ser humano. Governo entra, governo sai, e ninguém faz nada”, desabafa uma moradora que vive há 27 anos no local. Sua casa, que fica localizada na beira do barranco, é hoje a mais afetada pela erosão, exposta diretamente ao risco de desabamento.                                                                            

“Foi depois que cortaram essa rua que o barranco começou a cair”, Conta a moradora. A abertura de vias sem planejamento técnico acelera processos erosivos, especialmente em áreas com solo frágil. A Confederação Nacional de Municípios (2023) alerta que mais de 60% dos municípios não têm plano diretor atualizado, o que compromete a prevenção de desastres urbanos.

A situação, infelizmente, não é única, em várias partes do Brasil, famílias vivem sob o mesmo medo: casas perto de barrancos, rios ou em terrenos que cedem com a chuva. De acordo com o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), mais de 13 milhões de pessoas estão em áreas de risco, e o problema piora com obras malfeitas ou abandonadas, algo comum em mais da metade dos municípios, segundo o Tribunal de Contas da União (TCU, 2023).

“Colocaram essas manilhas, mas até agora não resolveram nada”, conta a moradora. As estruturas foram colocadas às pressas, apenas para sinalizar o perigo, mas o buraco continua crescendo e ameaça quem passa por ali todos os dias.

“Só tenho fé em Deus que alguém toque no coração de quem pode resolver”, diz a moradora, em meio ao medo e ao silêncio das autoridades, é a fé que sustenta a esperança de quem vive cercado pelo descaso.

 Na Rua Pouso Alto, que fica no bairro Miranda, o problema é outro. O que mais se vê são esgoto a céu aberto, lixo espalhado e um sentimento antigo de promessas que nunca saíram do papel. Agnaldo Jesus Souza, morador desde 2011, conhece bem essa história. “Isso aqui é desde que eu moro aqui”, ele conta, enquanto mostra o esgoto a céu na frente da casa do vizinho que, cansado de esperar por uma solução, acabou fazendo por conta própria, colocou as manilhas e arrumou o que pôde, só pra conseguir entrar em casa.

De acordo com dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), Rondon do Pará até tem cobertura para a coleta de resíduos sólidos urbanos, mas ainda não conta com um sistema de esgotamento sanitário regularizado, e a realidade nas casas é ainda mais difícil, apenas 13,3% contam com canalização de água internamente, e nenhuma está ligada a uma rede de coleta e tratamento de esgoto.

Para os moradores, conviver com o esgoto a céu aberto, acabou virando parte do dia a dia mesmo sabendo que isso não deveria ser normal. “A gente vai ajeitando como dá, mas ninguém aguenta mais viver desse jeito. Isso já era pra ter sido resolvido há muito tempo”, desabafa seu Agnaldo, com aquele tom de quem já escutou promessa demais e não viu nada acontecendo.

O descaso com a drenagem e a falta de saneamento básico são agravados pela existência de um lixão próximo às casas. “Jogam todo tipo de carniça aí”, denuncia seu Agnaldo, preocupado com a saúde das crianças e com o sufoco das famílias. Segundo ele, desde o asfaltamento da rua, por volta de 2013, nunca houve continuidade no projeto nem preocupação com o escoamento da água.

Enquanto aguardam por soluções concretas, os moradores seguem convivendo com a lama, os buracos e o descaso, à espera de um futuro em que promessas eleitorais sejam transformadas em ações reais. Procuramos a Secretaria de Obras de Rondon do Pará para comentar a situação de infraestrutura nos bairros, principalmente no bairro Miranda, para esclarecer se há algum projeto previsto para resolver os problemas sobre o esgoto a céu aberto e sobre o buraco que preocupa moradores do bairro Gusmão e também o lixão a céu aberto que segue sendo uma ameaça à saúde pública.

Em reposta a prefeitura nos mandou uma nota:

A Prefeitura de Rondon do Pará informa que há um planejamento em andamento para a continuidade das obras de pavimentação em ruas como a Raul Silva. Já foram executados mais de 20 km de pavimentação, com asfalto e bloquetes, ao longo da atual gestão.

Sobre o sistema de drenagem no bairro Gusmão, trata-se de um desafio histórico, jamais enfrentado por gestões anteriores. Desde 2021, a atual administração deu início a uma obra de drenagem profunda que já ultrapassou a Avenida Marechal Rondon e segue em direção ao bairro Miranda. A obra, atualmente com mais de 80% de execução, representa um marco na infraestrutura da cidade, mesmo que esteja momentaneamente paralisada. Trata-se de uma ação executada pelo Governo do Estado, com o acompanhamento e compromisso da Prefeitura.

Sobre as crateras que surgem no bairro durante o período chuvoso, um estudo técnico foi encaminhado ao Ministério das Cidades buscando apoio para intervenções emergenciais e definitivas. A Defesa Civil municipal e estadual acompanham de perto o problema.

A gestão também atua em medidas emergenciais nos casos de alagamentos, com ações de limpeza e desobstrução. Atualmente, todas as novas obras de pavimentação são precedidas por estudos técnicos de drenagem, prevenindo futuros transtornos.

A prefeita Adriana Andrade mantém diálogo aberto com a população e todas as informações estão disponíveis no Portal da Transparência. Entre as ações mais recentes, destacam-se os 4 km de pavimentação com bloquetes no bairro Novo Horizonte, viabilizados por emendas parlamentares.

Apesar dos avanços apresentados pela atual administração, moradores de bairros como o Gusmão ainda convivem com os efeitos das chuvas e da ausência de infraestrutura adequada. Enquanto obras seguem em andamento e novas promessas são feitas, a população segue vigilante e esperançosa por soluções definitivas que tragam segurança e dignidade às comunidades mais afetadas.

Continuaremos acompanhando a situação e atualizaremos a população assim que houver novas informações ou posicionamentos oficiais. Enquanto isso, os moradores seguem convivendo com buracos nas ruas e valas abertas um sentimento de abandono que já dura anos. E, como disse seu Agnaldo, “só a promessa que se renova”.

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