“Cabra marcado para morrer”, um marco do cinema documentário brasileiro, era, em 1964, um projeto de filme de ficção, baseado em fatos reais, sobre um líder camponês morto por ordem de um grande proprietário de terras nordestino. Com um elenco de atores camponeses, que incluía Elizabeth Teixeira, víuva do sindicalista assassinado, as filmagens foram interrompidas pelo golpe militar de 1º de abril. Integrantes da equipe que não conseguiram fugir, foram presos e torturados pelos militares, que apreenderam o material utilizado no filme. No entanto, as latas do copião ficaram escondidas durante anos até que Coutinho reunisse condições para voltar ao Nordeste, dezessete anos depois, a fim de reencontrar as pessoas que haviam participado das filmagens. A força de “Cabra marcado para morrer” encontra-se justamente no reencontro do cineasta com seus personagens, que participaram das lutas políticas no início dos anos 1960, e nas histórias que surgem nessas situações, especialmente a de Elizabeth Teixeira.

Texto: Marcelo Barbalho